Combustível do futuro na Lua
A fusão nuclear que se espera ser a energia do futuro usará hélio-3 que se encontra no nosso satélite
Embora continuamente adiada, como esta semana aconteceu com mais um prolongamento da escolha do local da instalação do reactor experimental de fusão nuclear ITER, mais tarde ou mais cedo, a energia de fusão nuclear, aquela em que a fusão de dois átomos de hidrogénio permitirá a obtenção de energia inesgotável, limpa e barata, será uma realidade para os tempos futuros.
Trata-se de imitar na Terra o processo que ocorre no interior das estrelas, sendo vista como a solução para os problemas energéticos do Mundo. Contudo, por paradoxal que isso possa parecer, e a isso não estarão isentos os grandes interesses das petrolíferas mundiais, não tem existido o investimento e o interesse político de desenvolver toda a tecnologia necessária, existindo uma verdadeira "guerra" entre a União Europeia e os Estados Unidos, apoiando estes a colocação do ITER no Japão em detrimento da instalação em França. Isto, dizem alguns analistas, por a França sempre se ter oposto à intervenção norte-americana no Iraque.
Seja como for, quando a energia de fusão nuclear for uma realidade, muitos cientistas dizem que em vez do hidrogénio, será utilizado hélio-3, um isótopo do segundo elemento da tabela periódica que, contrariamente ao hidrogénio é muito raro na Terra, porém abundante na Lua. Quando o rápido fluxo de partículas emanado do Sol colide com a Lua, deposita na sua superfície enormes quantidades de hélio-3, como o verificaram os vários astronautas das missões "Apollo". Como o hélio-3 poderá com vantagem substituir o hidrogénio nas reacções de fusão, muitos reclamam que é necessário ir à Lua para trazer o elemento que daria para produzir, durante milhares de anos, a energia necessária para todos os fins da humanidade. Por isso, não é de admirar que vários departamentos de universidades norte-americanas estejam preocupados com a forma de obter e transportar para a Terra este precioso combustível. Assim, a prestigiada Escola de Minas da Universidade do Colorado e o Instituto de Tecnologia de Fusão (FTI) da Universidade de Wisconsin, estão a trabalhar em projectos que permitirão a recolha e o transporte do hélio-3.
Para o antigo astronauta e geólogo Harrison Schmitt, agora investigador no FTI, o equivalente a uma carga simples de um vaivém espacial carregado de hélio-3, seria suficiente para prover toda a energia que os Estados Unidos necessitam durante um ano. Segundo o antigo astronauta-cientista da "Apollo 17" disse ao JN, "isto pode parecer ficção científica, mas é uma realidade para os próximos anos, levando a que os Estados Unidos revejam a sua política de exploração da Lua e do Espaço Exterior". Isto poderá também ir de encontro às intenções manifestadas durante o primeiro mandato de George W. Bush, que anunciou um forte interesse na retoma da exploração da Lua. Mas, para já, nada está definido em concreto.
A Lua será, no próximo ano, motivo de estudo por parte da sonda "Smart-1" da Agência Espacial Europeia. Certamente, os próximos tempos, com a crescente demanda de novas formas de energia, levarão homens e máquinas de novo ao nosso satélite.