sexta-feira, janeiro 28, 2005

Estados Unidos criam laboratório para biocombustíveis e biomassa

Fornecer aos cientistas informações sem precedentes sobre as reações químicas e biológicas que podem transformar plantas e materiais descartáveis em fontes úteis de energia. Esse é o objetivo de um laboratório recém inaugurado nos Estados Unidos, que consumiu investimentos de US$2,85 milhões.
Construído pelo Departamento de Energia daquele país, o novo laboratório será um dos departamentos do Laboratório Nacional de Energias Renováveis (NREL). Entre outros equipamentos de última geração, o laboratório conta com vários microscópios óticos e eletrônicos, que poderão permitir o entendimento das reações que transformam a biomassa em energia em seu nível mais básico, atômico e molecular.
Os equipamentos de alta sensibilidade operarão num ambiente estritamente controlado, incluindo sistemas para monitorar e manter constantes temperatura, umidade, vibração acústica e limpeza, tudo dentro de padrões exatos. Os cientistas também terão à sua disposição os mais avançados sistemas de informática para capturar, registrar e analisar os dados que eles obtiverem.
O novo laboratório irá permitir o desenvolvimento de novas tecnologias para bio-refinarias - complexos industriais que irão produzir combustíveis e uma ampla gama de outros produtos, da mesma forma que as refinarias de petróleo fazem atualmente. Com a salutar diferença de que as bio-refinarias utilizarão como matérias-primas plantas e lixo, ao invés de petróleo.
"O investimento exigido para criar esse laboratório é a prova do compromisso do Departamento de Energia em integrar a energia renovável em nossa infraestrutura nacional de energia," afirmou Douglas Kaempf, da da equipe do próprio Departamento de Energia.

sábado, janeiro 22, 2005

Hidrogênio para carros será armazenado em estado sólido


Armazenamento de hidrogênio em estado sólido

A economia do hidrogênio, com combustível renovável e livre de poluentes, ainda está longe de se tornar realidade. Mas para que ela seja possível um dia, um dos problemas a serem solucionados é o armazenamento do hidrogênio.

Os métodos de armazenamento do gás mais pesquisados atualmente trabalham com o hidrogênio na forma de gás comprimido ou na forma líquida. Entretanto, até o momento, nenhuma dessas técnicas se mostrou capaz de disponibilizar combustível em quantidade suficiente para abastecer um veículo movido a célula a combustível.

Agora, o fabricante de automóveis GM uniu-se com os cientistas dos Laboratórios Sandia, Estados Unidos, para desenvolver uma nova tecnologia capaz de armazenar hidrogênio em estado sólido.

A nova tecnologia armazena hidrogênio em hidretos metálicos, compostos que se formam quando o hidrogênio se combina com ligas metálicas. Esses compostos podem absorver o hidrogênio e armazená-lo em suas próprias estruturas moleculares. O hidrogênio é liberado quando o hidreto metálico é submetido ao calor.

O projeto, com duração de 4 anos, deverá consumir US$10 milhões para a construção e teste de tanques de armazenamento que utilizarão um hidreto complexo de sódio-alumínio ou alanato de sódio. O objetivo é desenvolver um pré-protótipo de tanque de armazenamento de estado sólido, capaz de armazenar mais hidrogênio por área do que os métodos atuais, liberando-o para abastecimento de células a combustível.

O alanato de sódio poderá ser pré-carregado no tanque, onde ele deverá permanecer, liberando seu hidrogênio e tornando-se uma mistura de hidreto de sódio e alumínio. O cliente poderá enchê-lo novamente utilizando hidrogênio na forma gasosa. Durante o enchimento, a mistura de alumínio e hidreto de sódio irá absorver o hidrogênio e voltar a formar o alanato de sódio, armazenando o hidrogênio sob baixa pressão.

Embora esse projeto tenha bom potencial, ainda há vários desafios a serem vencidos. Um dos principais é que os hidretos metálicos complexos, como o alanato de sódio, operam a temperaturas muito altas, gerando uma ineficiência devido à necessidade de utilização de uma parte do hidrogênio para liberação de todo o hidrogênio armazenado.

Outro desafio é a redução do tempo de recarregamento. Com a tecnologia atual, um tanque de tamanho razoável levaria cerca de 30 minutos para ser recarregado.

"Nós sabemos que muita pesquisa ainda precisa ser feita, tanto sobre os tipos de hidretos que podemos usar, quanto sobre os tanques onde os guardaremos. Nós acreditamos que nosso trabalho em projetos como esse com os Laboratórios Sandia irá nos levar um passo mais próximo de nosso objetivo," afirma Jim Spearot, engenheiro da GM.

"Nós estamos projetando um sistema de armazenamento de hidrogênio com exigências desafiadoras para o gerenciamento termal e limites para o volume e o peso," afirma o pesquisador Chris Moen.

Na fase um da pesquisa, os cientistas irão estudar todas as implicações da utilização do alanato de sódio como meio de armazenamento em um tanque. Eles irão analisar as possibilidades utilizando modelagens termais e mecânicas e desenvolver sistemas de controle para a transferência do hidrogênio e para as fontes de calor externas.

Nesta etapa também será escolhido o design mais adequado para o formato do tanque, que poderá ter desde o formato cilíndrico tradicional quanto ser feito de material semi-conformável.

Na fase dois, os pesquisadores construirão pré-protótipos dos projetos mais promissores e os submeterão a rigorosos testes de segurança.

sexta-feira, janeiro 14, 2005

As várias energias do oceano - Parte III (final)

Aspectos económicos
A única concretização portuguesa (ilha do Pico) em geração de energia eléctrica a partir das ondas não deve ser tomada directamente, em termos de custos, como ilustrativa da capacidade de produzir energia a preços competitivos (foi declaradamente um projecto de I&D). Veio porém a servir de base a um estudo de natureza económica efectuado no IST (financiados pela FCT), que aponta as vantagens em associar dispositivos do tipo de coluna de água oscilante à construção de infraestruturas de protecção portuária (com a decorrente partilha dos custos da estrutura).
Conhecem-se estudos independentes recentes efectuados para o Governo Britânico, em que as projecções indicam haver diversos dispositivos com potencial (após algum desenvolvimento adicional) para produzir energia eléctrica a preços unitários comparáveis aos dos geradores eólicos. Naturalmente a constituição de empresas privadas para o desenvolvimento e comercialização da energia das ondas (de que são exemplo, na Europa, a AWS na Holanda, e a Wavegen no Reino Unido) assenta nessa expectativa.

As barreiras ao desenvolvimento

Algumas são genéricas, outras são específicas do contexto português.
- A passagem da fase de ensaios em laboratório para a demonstração com protótipo em mar real é fortemente dispendiosa, requer uma longa preparação e envolve riscos de várias ordens.
- O desenvolvimento dum sistema do tipo em questão, passando pelo projecto construção e operação de protótipo, até ao limiar da comercialização, requer a participação e coordenação duma equipa multidisciplinar, envolvendo empresas e instituições de I&D. Existe pouca experiência e tradição de empreendimentos deste tipo em Portugal.
- A escassa experiência portuguesa em tecnologia offshore pode implicar uma forte dependência de tecnologia estrangeira no desenvolvimento de sistemas offshore de segunda geração.

As oportunidades

Esta tecnologia energética encontra-se num estado crucial de desenvolvimento. Empresas em diversos países têm investido nesta área na perspectiva da comercialização dentro de alguns anos. A I,D&D ao longo de duas décadas, e a experiência adquirida com o projecto e construção da central do Pico, colocam Portugal numa boa posição para participar efectivamente na fase seguinte de desenvolvimento.
A recente regulamentação portuguesa sobre os preços de compra da energia eléctrica produzida a partir das ondas (e de outras renováveis menos convencionais), no âmbito do Programa E4, Eficiência Energética e Energias Endógenas, constitui um incentivo a aproveitar.
Também a recente criação da Medida de Apoio à Dinamização do Sistema Tecnológico (POE) constitui uma oportunidade para a criação dum Centro de Energia das Ondas que possa promover, enquadrar e dinamizar actividades visando o desenvolvimento destes sistemas.
Para além do aproveitamento dum recurso energético endógeno e da criação de emprego, existem oportunidades para exportação de tecnologia e equipamentos (são de referir contactos recentes em Portugal por empresas do Canadá e Brasil).

O futuro: iniciativas e perspectivas

É previsível que, no panorama internacional, continue a haver competição, em termos de desenvolvimento, entre sistemas distintos (costeiros e em águas profundas, com diversos tipos de equipamentos mecânicos e eléctricos) e que tal se mantenha pelo menos no médio prazo. Existem aliás paralelos em áreas com maior maturidade tecnológica, de que são exemplos a utilização, em concorrência, de motores alternativos e de turbinas na propulsão naval e aérea, ou dos diversos tipos de turbinas de hidráulicas.
Parece incontroverso que o desenvolvimento continuará a passar pela construção, operação e teste de protótipos no mar, apesar dos elevados investimentos que tais acções implicam, e pelo aproveitamento criterioso dos conhecimentos e experiência assim adquiridos.
Portugal é hoje um dos países que dominam a tecnologia das centrais de coluna de água oscilante (classificadas por vezes como sistemas de primeira geração) e respectivo equipamento incluindo a conversão por turbina de ar. A operação da central do Pico e seu acompanhamento, incluindo a montagem e teste de equipamento complementar, serão essenciais para desenvolver a capacidade de projecto e construção de centrais usando este tipo de tecnologia ou de equipamento. Uma oportunidade próxima é a construção prevista na Foz do Douro duma central, basicamente do mesmo tipo, integrada numa obra de protecção costeira. É de referir que a tecnologia da coluna de água oscilante, associada a estruturas fixas, tem sido considerada particularmente adequada para sistemas mistos de energia das ondas e eólica offshore, e que há sistemas offshore em desenvolvimento (Japão, Irlanda, Reino Unido) que utilizam turbinas de ar.
O desenvolvimento de sistemas de energia das ondas offshore mais dificilmente poderá ser efectuado no País sem a participação de parceiros estrangeiros, por exigir maior esforço financeiro, comportar maiores riscos, e ainda por ser escassa entre nós a experiência em tecnologias offshore. A localização na costa portuguesa do protótipo AWS em fase final de construção é uma oportunidade para Portugal se associar, com o envolvimento de empresas e instituições de I&D nacionais, ao desenvolvimento desta tecnologia offshore.Mais geralmente, as condições naturais da costa portuguesa, as tarifas especiais estabelecidas para a energia das ondas e a existência de capacidade tecnológica específica nacional tornam Portugal um país particularmente interessante como base para a demonstração de tecnologias de energia das ondas (incluindo sistemas offshore), sendo de incentivar para isso a constituição de consórcios com participação nacional significativa.
É ainda de incentivar a formação de consórcios visando a exportação de tecnologia desenvolvida em Portugal.
Da análise anterior resulta que não há ainda uma actividade económica estabelecida na área da energia das ondas, pelo que as empresas que têm mostrado interesse nesta área encontram dificuldade em definir uma estratégia para a sua inserção e em avaliar as oportunidades de negócio associadas, e desconhecem possíveis parceiros a quem se associarem. Por outro lado, o objectivo último de exportar a tecnologia e os seus produtos aconselha a antecipar a ligação a possíveis parceiros localizados em regiões do planeta com recurso significativo em energia das ondas e sem experiência anterior nesta área. É igualmente importante acentuar que a conversão da energia das ondas é uma tecnologia em evolução, pelo que não é improvável que novos sistemas e equipamentos venham a revelar-se mais interessantes que os que estão actualmente em desenvolvimento, sendo por isso conveniente manter uma postura aberta e procurar cativar para o País o desenvolvimento de conceitos promissores. Em face destas considerações, e tendo em conta que existe actualmente no país um mecanismo de apoio financeiro à criação de novos centros tecnológicos, parece oportuna e recomendável a criação de um Centro de Energia das Ondas com as seguintes características e objectivos:
- Será uma entidade privada sem fins lucrativos cujos membros são empresas, fundações e instituições de investigação sedeadas em qualquer país, e que actuará em complementaridade com a European Wave Energy Network da Comissão Europeia e o Implementing Agreement on Ocean Energy da Agência Internacional de Energia.
- Será uma entidade permanente com existência física e um quadro de pessoal próprio reduzido.
- Será auto-financiado, através das cotas anuais dos sócios, da prestação de serviços e de financiamento parcial em projectos de I&D – após uma fase inicial de instalação em que será financiado ao abrigo das Acções A da Medida 3.1 do POE.
- Terá uma estrutura de gestão que reflicta o carácter internacional do centro e um equilíbrio entre a comunidade empresarial e a de I&D.
- Terá por objectivos:
o Promover a colaboração entre empresas, investidores, instituições de investigação e de financiamento e inventores com vista ao desenvolvimento, promoção e comercialização de centrais e equipamentos de utilização da energia das ondas.
o Desenvolver e divulgar informação relevante para a actividade dos associados.
o Realizar actividade de carácter tecnológico e, entre outros, estudos de mercado, estudos de impacto ambiental e estudos de avaliação de riscos.
Estando a tecnologia ainda em fase de demonstração, qualquer estimativa da contribuição das ondas para o sistema eléctrico nacional em 2010 terá um elevado grau de incerteza. Até cerca de 2003-2004 é de prever a existência de três protótipos (um já existente, outro em fase final de construção e outro planeado) com a potência total de cerca de 3 MW. Na fase seguinte de replicação, e até cerca de 2007-08, pode-se prever a instalação de cerca de 20-30 MW repartidos por um pequeno número de centrais de coluna de água oscilante em obras de protecção costeira (com potências unitárias de cerca de 0,5-1 MW), e um ou mais conjuntos de sistemas offshore com potências unitárias da ordem de 3-5 MW. A partir desta data e até 2010, e admitindo que as tecnologias actualmente em desenvolvimento (e eventualmente outras) terão então atingido a fase de comercialização, as perspectivas podem exceder 50 MW de potência instalada.

Texto gentilmente cedido pelo Prof. António Falcão, realizado no âmbito do Forum “Energias Renováveis em Portugal” Grupo Temático: “ENERGIA DOS OCEANOS

sexta-feira, janeiro 07, 2005

As várias energias do oceano - Parte II

Comparação com outras tecnologias energéticas

A conversão de energia a partir das ondas apresenta claras semelhanças com a eólica. Dado que as ondas são produzidas pela acção do vento, os dois recursos apresentam idêntica irregularidade e variação sazonal. Em ambos os casos extrai-se energia dum meio fluido em movimento e de extensão praticamente ilimitada.
A natureza ondulatório do mar (em comparação com o simples movimento de velocidade mais ou menos constante do vento) está na origem da maior complexidade de concepção de sistemas de conversão. Em compensação o recurso energético das ondas apresenta maior concentração espacial (numa camada de algumas dezenas de metros abaixo da superfície) do que a energia eólica. Em ambos os casos, os sistemas de aproveitamento são modulares, com potências instaladas por unidade previsivelmente inferiores à dezena de megawatts.
A maior complexidade dos sistemas de conversão e a maior agressividade do meio explicam o atraso da tecnologia das ondas em relação à eólica. Por outro lado, enquanto que no vento se convergiu para uma tecnologia bem definida (turbina de eixo horizontal), nas ondas a tecnologia tem-se dispersado por diversas concepções, o que também traduz uma realidade física mais variada (sistemas costeiros e offshore).

A situação internacional

Na Europa, tem havido I,D&D no Reino Unido, Irlanda, Dinamarca, Holanda, Noruega, Suécia e (em menor grau) em França (além de Portugal). O recurso das ondas é particularmente favorável na Irlanda e Reino Unido (Escócia). Foi recentemente anunciada (Julho de 2001) pelo Governo (regional) Escocês a criação dum centro de testes de tecnologias marítimas (ondas e correntes) na costa da ilha Orkney. No Reino Unido foi recentemente construída (pela empresa Wavegen) e está em operação uma central de coluna de água oscilante de 500 kW (ilha de Islay), e estão em desenvolvimento (pelas empresas Ocean Power Delivery e Wavegen, com financiamento estatal), dois protótipos offshore. Um consórcio holandês (AWS) desenvolveu um sistema offshore, estando previsto que um protótipo de 2 MW seja instalado em breve ao largo da costa portuguesa.
Fora da Europa, tem havido actividade em vários países, com relevo para o Japão, Índia, China, Canadá e Austrália. Foram construídos protótipos com potências entre 60 e 150 kW no Japão, Índia e China. Recentemente (Agosto de 2001), e a título de demonstração e transferência de tecnologia, a British Columbia Hydro (Canadá) lançou um concurso internacional para o projecto e construção de duas centrais com um total de 4 MW na ilha de Vancouver. Na Austrália foi anunciada a construção (na costa sul) duma central de coluna de água oscilante pela empresa Energetec.
No âmbito do programa JOULE da Comissão Europeia foi criada uma European Wave Energy Network (2000-2003) com participação de 8 países europeus. Em Outubro de 2001 foi assinado, no âmbito da International Energy Agency, um Implementing Agreement of Ocean Energy (de que Portugal é o país coordenador).

A situação em Portugal

As zonas costeiras portuguesas (em especial a costa ocidental do continente e as ilhas dos Açores) têm condições naturais entre as mais favoráveis em qualquer parte do mundo para o aproveitamento da energia das ondas: recurso abundante (cerca de 25-30 kW/m média anual), plataforma continental estreita (inexistente nos Açores) (ou seja águas profundas na proximidade da costa), consumo e rede eléctrica concentrados junto à costa do continente. A energia que chega à costa ocidental (500 km) é de cerca de 120 TWh/ano (em águas profundas). A conversão de apenas 1% desta energia em energia útil (substancialmente aquém do que é tecnicamente viável) produziria 1,2 TWh/ano, o que (para um factor de carga de 0,25) corresponderia a uma potência instalada de 550 MW. A contribuição dominante seria naturalmente de sistemas offshore.
Em termos de I&D, Portugal é um dos países pioneiros (actividade desde a década de setenta) e com maior impacto (por exemplo em termos número de publicações e de participação e coordenação de projectos europeus). Dos três grandes projectos europeus actuais com construção de protótipos, liderou um (ilha Pico) e participou nos outros dois (LIMPET, ilha de Islay, Escócia, e AWS, Viana do Castelo). Portugal liderou a elaboração do Atlas Europeu de Energia das Ondas, referente ao recurso em águas profundas (offshore), estando em fase de finalização o Atlas Nacional de Ondas que descreve o recurso junto à costa do continente.
A actividade e capacidade de I&D e a competência específica nesta área estão essencialmente concentrados no Instituto Superior Técnico e no INETI. O projecto do Pico permitiu às empresas nele participantes adquirir experiência neste domínio: EDP, EDA, EFACEC, Profabril.
Para além destas instituições, e numa perspectiva mais lata, existe substancial capacidade técnica em Portugal na área do mar, nomeadamente engenharia costeira, portuária e naval. A engenharia offshore é uma área de menor capacidade nacional (em comparação com alguns países do norte da Europa).
É de notar que se localizam em Portugal dois dos três protótipos recentemente construídos na Europa.

domingo, janeiro 02, 2005


As várias energias do oceano - Parte I

Têm sido associadas aos oceanos diversas formas de energias potencialmente utilizáveis. Não serão aqui considerados os recursos energéticos abaixo do fundo (combustíveis fósseis offshore) ou acima da água (energia eólica offshore).
- Energia das marés: Tecnologia convencional, associada aos aproveitamentos hidroeléctricos de baixa queda e à construção de protecções costeiras e portuárias. A inexistência de condições naturais favoráveis (amplitudes de marés superiores a cerca de 5 metros) torna esta tecnologia pouco interessante em Portugal.
- Diferencial térmico (Ocean Thermal Energy Conversion ou OTEC): Potencialmente interessante em regiões costeiras com águas superficiais relativamente quentes (em média superiores a 25-28°). De interesse praticamente nulo em Portugal.
- Gradiente salino: Tecnologia em fase inicial de desenvolvimento, potencialmente importante se for bem sucedida. Desconhece-se qualquer actividade de I&D em Portugal. Pode justificar-se o acompanhamento do seu desenvolvimento.
- Correntes marítimas. Essencialmente as que são devidas à acção das marés, e atingem velocidades relativamente elevadas (até cerca de 2 m/s em média) em zonas confinadas (em grande parte dos casos estreitos formados por ilhas). Tem vindo a despertar interesse crescente na Europa (protótipos financiados pela Comissão Europeia), em especial no Reino Unido e Itália. A tecnologia tem semelhanças com a das turbinas eólicas. Em Portugal, o recurso potencialmente utilizável é relativamente pequeno: apenas ocorrem velocidades minimamente interessantes em estuários, onde o aproveitamento desta energia pode ser ambientalmente sensível. Parece justificar-se fazer um estudo exploratório.
- Energia das ondas: A tecnologia (de energia dos oceanos) em que na última década mais se tem investido em termos de I&D, em especial na Europa e alguns outros países. As regiões costeiras portuguesas estão entre as que têm melhores condições naturais a nível europeu e mesmo mundial. Portugal conta-se entre os países pioneiros em I,D&D. Dois dos poucos protótipos de dimensão industrial estão em Portugal: um em fase inicial de operação (ilha do Pico) e outro em fase final de construção (Viana do Castelo). Genericamente, a tecnologia pode considerar-se em fase pré-comercial.O presente documento incide essencialmente sobre o aproveitamento da energia das ondas.

A tecnologia

A situação actual caracteriza-se por uma substancial variedade de dispositivos e métodos de extracção de energia das ondas, o que indica haver ainda um espaço relativamente amplo para desenvolvimento. Não se atingiu a situação de convergência para uma tecnologia dominante que caracteriza outras formas de energia mais convencionais (caso das turbinas de eixo horizontal para energia eólica). É possível que se venha a convergir para um pequeno número de soluções tecnológicas distintas, adequadas a situações diferentes (à semelhança dos vários tipos de turbinas hidráulicas apropriadas conforme a altura de queda).Têm sido propostos diversos critérios para classificar os sistemas de extracção de energia das ondas. Por simplicidade consideram-se apenas aqui dois grupos:
- Sistemas na costa (ou próximos da costa). Estão normalmente localizados em águas pouco profundas (8-20 m), apoiados directamente na costa, ou próximos dela (possivelmente associados a obras de protecção costeira ou molhes portuários). São por vezes considerados de primeira geração, por serem praticamente os únicos que atingiram a fase de protótipo. O sistema de coluna de água oscilante é o tipo mais bem sucedido. A tecnologia envolvida é relativamente convencional. A peça de equipamento mais específica é uma turbina de ar que acciona um gerador eléctrico. A central da ilha do Pico é deste tipo, tal como a igualmente recente central da ilha de Islay (Escócia). Os problemas de transporte de energia para terra e de acesso para manutenção são de relativamente fácil resolução. Em contrapartida, a localização depende dum conjunto de factores geomorfológicos favoráveis na vizinhança imediata da costa, e os bons locais para construção não abundam.
-Sistemas em águas profundas (offshore) (normalmente em profundidades de 25-50 m), por vezes designados de segunda geração. Têm sido estudados dispositivos muito variados, sem que pareça ter surgido um tipo que domine os restantes como o mais vantajoso e promissor. Em geral o órgão principal é um corpo oscilante flutuante ou, mais raramente, totalmente submerso. O sistema de extracção de energia pode ainda utilizar a turbina de ar, ou equipamentos mais sofisticados (sistemas óleo-hidráulicos, motores eléctricos lineares, etc.). O sistema AWS, com tecnologia essencialmente holandesa, é um dos raros que atingiram a fase de construção de protótipo. Os sistemas offshore estão menos dependentes das condições de costa, e (em longas séries ao longo da costa) são os mais adequados para o aproveitamento da energia das ondas em grande escala. As dificuldades associadas à sua maior complexidade, transporte de energia para terra, amarração ao fundo e acesso para manutenção têm impedido que o seu grau de desenvolvimento atingisse o da coluna de água oscilante.Uma boa eficiência de extracção de energia está associada condições de ressonância com as ondas, o que tem implicações sobre as dimensões máximas dos sistemas. Daqui resulta na prática que os sistemas (tal como na energia eólica) deverão ser modulares, com potências por unidade que não excedendo alguns megawatts, o que aponta para o fabrico em série. Qualquer que seja a tecnologia utilizada, a variabilidade da potência produzida está dependente da variabilidade do próprio recurso energético (sazonal, e com o estado de mar), à semelhança do que sucede com a energia eólica. As flutuações associadas à escala de tempo do período da onda (cerca de 10 segundos) podem ser mais ou menos bem filtradas, conforme o sistema e a sua capacidade de armazenamento de energia (por exemplo num volante de inércia). O impacto ambiental é variável conforme o tipo de sistema e, especialmente, a sua localização. Para os sistemas na costa o impacto é essencialmente visual. O principal impacto dos sistemas offshore está associado a interferências com a navegação e pesca. Nas explorações offshore em grande escala, é de prever alteração (embora provavelmente não muito significativa) do regime de agitação marítima que atinge a costa, com a consequente modificação do transporte de sedimentos. O impacto na vida marinha é provavelmente pouco significativo. Os sistemas de coluna de água oscilante, e outros utilizando turbina de ar, produzem ruído, que no entanto pode ser atenuado (se necessário) recorrendo a técnicas convencionais. Dum modo geral, a utilização da energia das ondas é uma tecnologia relativamente benigna do ponto de vista ambiental.

Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
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