sexta-feira, janeiro 07, 2005

As várias energias do oceano - Parte II

Comparação com outras tecnologias energéticas

A conversão de energia a partir das ondas apresenta claras semelhanças com a eólica. Dado que as ondas são produzidas pela acção do vento, os dois recursos apresentam idêntica irregularidade e variação sazonal. Em ambos os casos extrai-se energia dum meio fluido em movimento e de extensão praticamente ilimitada.
A natureza ondulatório do mar (em comparação com o simples movimento de velocidade mais ou menos constante do vento) está na origem da maior complexidade de concepção de sistemas de conversão. Em compensação o recurso energético das ondas apresenta maior concentração espacial (numa camada de algumas dezenas de metros abaixo da superfície) do que a energia eólica. Em ambos os casos, os sistemas de aproveitamento são modulares, com potências instaladas por unidade previsivelmente inferiores à dezena de megawatts.
A maior complexidade dos sistemas de conversão e a maior agressividade do meio explicam o atraso da tecnologia das ondas em relação à eólica. Por outro lado, enquanto que no vento se convergiu para uma tecnologia bem definida (turbina de eixo horizontal), nas ondas a tecnologia tem-se dispersado por diversas concepções, o que também traduz uma realidade física mais variada (sistemas costeiros e offshore).

A situação internacional

Na Europa, tem havido I,D&D no Reino Unido, Irlanda, Dinamarca, Holanda, Noruega, Suécia e (em menor grau) em França (além de Portugal). O recurso das ondas é particularmente favorável na Irlanda e Reino Unido (Escócia). Foi recentemente anunciada (Julho de 2001) pelo Governo (regional) Escocês a criação dum centro de testes de tecnologias marítimas (ondas e correntes) na costa da ilha Orkney. No Reino Unido foi recentemente construída (pela empresa Wavegen) e está em operação uma central de coluna de água oscilante de 500 kW (ilha de Islay), e estão em desenvolvimento (pelas empresas Ocean Power Delivery e Wavegen, com financiamento estatal), dois protótipos offshore. Um consórcio holandês (AWS) desenvolveu um sistema offshore, estando previsto que um protótipo de 2 MW seja instalado em breve ao largo da costa portuguesa.
Fora da Europa, tem havido actividade em vários países, com relevo para o Japão, Índia, China, Canadá e Austrália. Foram construídos protótipos com potências entre 60 e 150 kW no Japão, Índia e China. Recentemente (Agosto de 2001), e a título de demonstração e transferência de tecnologia, a British Columbia Hydro (Canadá) lançou um concurso internacional para o projecto e construção de duas centrais com um total de 4 MW na ilha de Vancouver. Na Austrália foi anunciada a construção (na costa sul) duma central de coluna de água oscilante pela empresa Energetec.
No âmbito do programa JOULE da Comissão Europeia foi criada uma European Wave Energy Network (2000-2003) com participação de 8 países europeus. Em Outubro de 2001 foi assinado, no âmbito da International Energy Agency, um Implementing Agreement of Ocean Energy (de que Portugal é o país coordenador).

A situação em Portugal

As zonas costeiras portuguesas (em especial a costa ocidental do continente e as ilhas dos Açores) têm condições naturais entre as mais favoráveis em qualquer parte do mundo para o aproveitamento da energia das ondas: recurso abundante (cerca de 25-30 kW/m média anual), plataforma continental estreita (inexistente nos Açores) (ou seja águas profundas na proximidade da costa), consumo e rede eléctrica concentrados junto à costa do continente. A energia que chega à costa ocidental (500 km) é de cerca de 120 TWh/ano (em águas profundas). A conversão de apenas 1% desta energia em energia útil (substancialmente aquém do que é tecnicamente viável) produziria 1,2 TWh/ano, o que (para um factor de carga de 0,25) corresponderia a uma potência instalada de 550 MW. A contribuição dominante seria naturalmente de sistemas offshore.
Em termos de I&D, Portugal é um dos países pioneiros (actividade desde a década de setenta) e com maior impacto (por exemplo em termos número de publicações e de participação e coordenação de projectos europeus). Dos três grandes projectos europeus actuais com construção de protótipos, liderou um (ilha Pico) e participou nos outros dois (LIMPET, ilha de Islay, Escócia, e AWS, Viana do Castelo). Portugal liderou a elaboração do Atlas Europeu de Energia das Ondas, referente ao recurso em águas profundas (offshore), estando em fase de finalização o Atlas Nacional de Ondas que descreve o recurso junto à costa do continente.
A actividade e capacidade de I&D e a competência específica nesta área estão essencialmente concentrados no Instituto Superior Técnico e no INETI. O projecto do Pico permitiu às empresas nele participantes adquirir experiência neste domínio: EDP, EDA, EFACEC, Profabril.
Para além destas instituições, e numa perspectiva mais lata, existe substancial capacidade técnica em Portugal na área do mar, nomeadamente engenharia costeira, portuária e naval. A engenharia offshore é uma área de menor capacidade nacional (em comparação com alguns países do norte da Europa).
É de notar que se localizam em Portugal dois dos três protótipos recentemente construídos na Europa.

Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
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