sexta-feira, janeiro 14, 2005

As várias energias do oceano - Parte III (final)

Aspectos económicos
A única concretização portuguesa (ilha do Pico) em geração de energia eléctrica a partir das ondas não deve ser tomada directamente, em termos de custos, como ilustrativa da capacidade de produzir energia a preços competitivos (foi declaradamente um projecto de I&D). Veio porém a servir de base a um estudo de natureza económica efectuado no IST (financiados pela FCT), que aponta as vantagens em associar dispositivos do tipo de coluna de água oscilante à construção de infraestruturas de protecção portuária (com a decorrente partilha dos custos da estrutura).
Conhecem-se estudos independentes recentes efectuados para o Governo Britânico, em que as projecções indicam haver diversos dispositivos com potencial (após algum desenvolvimento adicional) para produzir energia eléctrica a preços unitários comparáveis aos dos geradores eólicos. Naturalmente a constituição de empresas privadas para o desenvolvimento e comercialização da energia das ondas (de que são exemplo, na Europa, a AWS na Holanda, e a Wavegen no Reino Unido) assenta nessa expectativa.

As barreiras ao desenvolvimento

Algumas são genéricas, outras são específicas do contexto português.
- A passagem da fase de ensaios em laboratório para a demonstração com protótipo em mar real é fortemente dispendiosa, requer uma longa preparação e envolve riscos de várias ordens.
- O desenvolvimento dum sistema do tipo em questão, passando pelo projecto construção e operação de protótipo, até ao limiar da comercialização, requer a participação e coordenação duma equipa multidisciplinar, envolvendo empresas e instituições de I&D. Existe pouca experiência e tradição de empreendimentos deste tipo em Portugal.
- A escassa experiência portuguesa em tecnologia offshore pode implicar uma forte dependência de tecnologia estrangeira no desenvolvimento de sistemas offshore de segunda geração.

As oportunidades

Esta tecnologia energética encontra-se num estado crucial de desenvolvimento. Empresas em diversos países têm investido nesta área na perspectiva da comercialização dentro de alguns anos. A I,D&D ao longo de duas décadas, e a experiência adquirida com o projecto e construção da central do Pico, colocam Portugal numa boa posição para participar efectivamente na fase seguinte de desenvolvimento.
A recente regulamentação portuguesa sobre os preços de compra da energia eléctrica produzida a partir das ondas (e de outras renováveis menos convencionais), no âmbito do Programa E4, Eficiência Energética e Energias Endógenas, constitui um incentivo a aproveitar.
Também a recente criação da Medida de Apoio à Dinamização do Sistema Tecnológico (POE) constitui uma oportunidade para a criação dum Centro de Energia das Ondas que possa promover, enquadrar e dinamizar actividades visando o desenvolvimento destes sistemas.
Para além do aproveitamento dum recurso energético endógeno e da criação de emprego, existem oportunidades para exportação de tecnologia e equipamentos (são de referir contactos recentes em Portugal por empresas do Canadá e Brasil).

O futuro: iniciativas e perspectivas

É previsível que, no panorama internacional, continue a haver competição, em termos de desenvolvimento, entre sistemas distintos (costeiros e em águas profundas, com diversos tipos de equipamentos mecânicos e eléctricos) e que tal se mantenha pelo menos no médio prazo. Existem aliás paralelos em áreas com maior maturidade tecnológica, de que são exemplos a utilização, em concorrência, de motores alternativos e de turbinas na propulsão naval e aérea, ou dos diversos tipos de turbinas de hidráulicas.
Parece incontroverso que o desenvolvimento continuará a passar pela construção, operação e teste de protótipos no mar, apesar dos elevados investimentos que tais acções implicam, e pelo aproveitamento criterioso dos conhecimentos e experiência assim adquiridos.
Portugal é hoje um dos países que dominam a tecnologia das centrais de coluna de água oscilante (classificadas por vezes como sistemas de primeira geração) e respectivo equipamento incluindo a conversão por turbina de ar. A operação da central do Pico e seu acompanhamento, incluindo a montagem e teste de equipamento complementar, serão essenciais para desenvolver a capacidade de projecto e construção de centrais usando este tipo de tecnologia ou de equipamento. Uma oportunidade próxima é a construção prevista na Foz do Douro duma central, basicamente do mesmo tipo, integrada numa obra de protecção costeira. É de referir que a tecnologia da coluna de água oscilante, associada a estruturas fixas, tem sido considerada particularmente adequada para sistemas mistos de energia das ondas e eólica offshore, e que há sistemas offshore em desenvolvimento (Japão, Irlanda, Reino Unido) que utilizam turbinas de ar.
O desenvolvimento de sistemas de energia das ondas offshore mais dificilmente poderá ser efectuado no País sem a participação de parceiros estrangeiros, por exigir maior esforço financeiro, comportar maiores riscos, e ainda por ser escassa entre nós a experiência em tecnologias offshore. A localização na costa portuguesa do protótipo AWS em fase final de construção é uma oportunidade para Portugal se associar, com o envolvimento de empresas e instituições de I&D nacionais, ao desenvolvimento desta tecnologia offshore.Mais geralmente, as condições naturais da costa portuguesa, as tarifas especiais estabelecidas para a energia das ondas e a existência de capacidade tecnológica específica nacional tornam Portugal um país particularmente interessante como base para a demonstração de tecnologias de energia das ondas (incluindo sistemas offshore), sendo de incentivar para isso a constituição de consórcios com participação nacional significativa.
É ainda de incentivar a formação de consórcios visando a exportação de tecnologia desenvolvida em Portugal.
Da análise anterior resulta que não há ainda uma actividade económica estabelecida na área da energia das ondas, pelo que as empresas que têm mostrado interesse nesta área encontram dificuldade em definir uma estratégia para a sua inserção e em avaliar as oportunidades de negócio associadas, e desconhecem possíveis parceiros a quem se associarem. Por outro lado, o objectivo último de exportar a tecnologia e os seus produtos aconselha a antecipar a ligação a possíveis parceiros localizados em regiões do planeta com recurso significativo em energia das ondas e sem experiência anterior nesta área. É igualmente importante acentuar que a conversão da energia das ondas é uma tecnologia em evolução, pelo que não é improvável que novos sistemas e equipamentos venham a revelar-se mais interessantes que os que estão actualmente em desenvolvimento, sendo por isso conveniente manter uma postura aberta e procurar cativar para o País o desenvolvimento de conceitos promissores. Em face destas considerações, e tendo em conta que existe actualmente no país um mecanismo de apoio financeiro à criação de novos centros tecnológicos, parece oportuna e recomendável a criação de um Centro de Energia das Ondas com as seguintes características e objectivos:
- Será uma entidade privada sem fins lucrativos cujos membros são empresas, fundações e instituições de investigação sedeadas em qualquer país, e que actuará em complementaridade com a European Wave Energy Network da Comissão Europeia e o Implementing Agreement on Ocean Energy da Agência Internacional de Energia.
- Será uma entidade permanente com existência física e um quadro de pessoal próprio reduzido.
- Será auto-financiado, através das cotas anuais dos sócios, da prestação de serviços e de financiamento parcial em projectos de I&D – após uma fase inicial de instalação em que será financiado ao abrigo das Acções A da Medida 3.1 do POE.
- Terá uma estrutura de gestão que reflicta o carácter internacional do centro e um equilíbrio entre a comunidade empresarial e a de I&D.
- Terá por objectivos:
o Promover a colaboração entre empresas, investidores, instituições de investigação e de financiamento e inventores com vista ao desenvolvimento, promoção e comercialização de centrais e equipamentos de utilização da energia das ondas.
o Desenvolver e divulgar informação relevante para a actividade dos associados.
o Realizar actividade de carácter tecnológico e, entre outros, estudos de mercado, estudos de impacto ambiental e estudos de avaliação de riscos.
Estando a tecnologia ainda em fase de demonstração, qualquer estimativa da contribuição das ondas para o sistema eléctrico nacional em 2010 terá um elevado grau de incerteza. Até cerca de 2003-2004 é de prever a existência de três protótipos (um já existente, outro em fase final de construção e outro planeado) com a potência total de cerca de 3 MW. Na fase seguinte de replicação, e até cerca de 2007-08, pode-se prever a instalação de cerca de 20-30 MW repartidos por um pequeno número de centrais de coluna de água oscilante em obras de protecção costeira (com potências unitárias de cerca de 0,5-1 MW), e um ou mais conjuntos de sistemas offshore com potências unitárias da ordem de 3-5 MW. A partir desta data e até 2010, e admitindo que as tecnologias actualmente em desenvolvimento (e eventualmente outras) terão então atingido a fase de comercialização, as perspectivas podem exceder 50 MW de potência instalada.

Texto gentilmente cedido pelo Prof. António Falcão, realizado no âmbito do Forum “Energias Renováveis em Portugal” Grupo Temático: “ENERGIA DOS OCEANOS

Comunidade Portuguesa de Ambientalistas
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