Eficiencia Energetica, Projectos Portugueses apresentados no ENERGEX 2004
Aproveitar bem as várias formas de energia é a preocupação de muitos investigadores. Apresentam-se dois trabalhos que visam a eficiência energética, quer isto dizer, que pretendem usar menos energia para obter melhores resultados.
A ilha de Porto Santo serve de modelo para exemplificar um processo de rentabilização da água do mar. Para fornecer água potável a toda a população foi instalado um sistema de dessalinização através da osmose inversa.
Trata-se de um processo de filtragem dos componentes. A água salgada entra em contacto com uma membrana selectiva que retém o cloreto de sódio, o sal, e deixa passar a água no seu estado puro. “A utilização da osmose inversa à escala industrial para dessalinização da água do mar, começou a ser possível nos anos 60 com o desenvolvimento de membranas assimétricas que, pelo facto de terem grandes fluxos de permeabilização e grande selectividade, permitiram ser uma alternativa aos processos técnicos que são processos de utilização intensiva de energia,” explica Maria Norberta Pinho, professora do Instituto Superior Técnico.
Este trabalho foi desenvolvido por uma equipa de investigadores do Instituto Superior Técnico. O objectivo é optimizar a configuração dos módulos de forma a baixar os custos de produção da água doce e o consumo de energia. “Este trabalho é uma parte pequena de um trabalho que temos vindo a desenvolver num tipo de módulos usados para a produção de água por osmose inversa,” explica a investigadora. “São uns módulos enrolados em espiral que são módulos muito compactos, que, associam algumas centenas de metros quadrados por área de membrana por metro cúbico. Mas pelo facto de serem módulos compactos têm alguns problemas que nós temos vindo a trabalhar,” continua.
Os problemas passam pela eficiência da tecnologia que liga a dinâmica de fluidos e a transferência de massas. Esta conjugação é fundamental para o sucesso do sistema.
Em Portugal, a única instalação é a de Porto Santo que é de capacidade média. O factor escala ainda é muito importante para a sustentabilidade do processo, mas este já deu provas das suas vantagens. “Para além de serem processos menos exigentes do ponto de vista energético são processos que são chamados de limpos, porque do ponto de vista do ambiente permitem o tratamento de águas contaminadas, permitem a reciclagem da água nos processos químicos.”
Como se trata de uma tecnologia recente, a sua aplicação ainda não é muito comum.
Do mesmo fala Neil Turley. Engenheiro mecânico de formação, veio para Portugal há oito anos. Nos últimos quatro tem vindo a desenvolver um projecto na área da eficiência energética. O objectivo é criar soluções comerciais de aquecimento de casas através da energia solar. “O grande problema da energia solar sempre foi a forma de armazenamento da energia do dia para a noite, porque de noite precisamos de mais energia,” explica Turley. “Até agora houve várias investigações em universidades sobre um material que se chama PCM. Um PCM é um material de mudança de fase, ou seja, um material sólido que passa a líquido, como o gelo passa a água. Quando há esta mudança de fase há muita energia que é libertada ou absorvida,” conclui.
Estes materiais são instalados no chão do edifício. No telhado, as placas absorvem qualquer energia radiante disponível emitida pelo sol. O calor é transferido para um cilindro de água quente que vai servir de armazém. Desta forma, com a água a circular por toda a instalação é possível manter a temperatura desejada ao longo de todo o ano, tanto da casa como da água.
Este sistema está a ser implementado pela primeira vez na Europa e o lugar escolhido para começar foi Portugal. “Portugal e Espanha são os países com mais quantidade de energia solar disponível da Europa. Portugal tem das melhores conjugações de fontes de energia assim como o Golfo da Arábia. Tem ondas, vento, energia solar e energia geotérmica. Com este sistema de energia solar as casas portuguesas podem reduzir drasticamente o consumo de combustíveis fósseis.”
De forma a tornar este processo mais conhecido, Neil Turley criou uma página na Internet que vai funcionar como um intermediário. “Queremos usar a internet para dar informação. Para permitir às pessoas, que vão à página, colocar informações sobre onde é a casa, qual o tamanho, quantos andares, qual o tamanho dos quartos. Com estas informações eles têm imediatamente os custos do sistema, o design, as implicações ambientais, como o gás CO2 que é poupado e também é uma forma de entender como é que o sistema funciona,” explica o engenheiro.
Soluções para o aproveitamento dos recursos energéticos naturais são uma preocupação que ocupa muitos investigadores. Portugal reúne as melhores condições, em termos de fontes de energias limpas, mas ainda tira pouco partido da maior parte delas.