Energia solar pode sair à rua
Os automóveis movidos a energia solar poderão ser uma realidade dentro de dez a vinte anos. Isto, caso a indústria mundial do sector se interesse pela comercialização destes veículos não poluentes. A Agência Espacial Europeia (ESA) desenvolveu o seu próprio protótipo: o Nuna, da responsabilidade da equipa Alpha Centauri Team, da Universidade de Delft, na Holanda, dirigida pelo antigo astronauta Wubbo Ockels.
Este projecto, desenvolvido por jovens cientistas holandeses, foi o que suscitou mais curiosidade no primeiro dia da Conferência Bienal sobre sistemas de alimentação usados no espaço, que, desde ontem, decorre no Porto. O objectivo que levou à criação do Nuna é tirar o máximo partido dos benefícios da mais recente tecnologia europeia espacial. Wubbo Ockels é responsável pelo Gabinete de Projectos Educativos da ESA e foi no âmbito destas funções que se tornou conselheiro da equipa holandesa da Universidade de Delft.
Desta forma, através do programa de financiamento da ESA para os painéis solares e baterias, nasceu um carro solar mais rápido, mais eficiente e mais seguro. O desafio ficou comprovado em Novembro do ano passado, quando o Nuna venceu o "World Solar Challenges", evento realizado na Austrália destinado a promover o uso da energia solar. Dotado de células solares iguais às usadas pelo telescópio espacial Hubble, o veículo percorreu 3010 quilómetros do deserto australiano no tempo recorde de 32 horas e 39 minutos.
A energia recolhida pelos 36 painéis solares instalados no automóvel é armazenada numa bateria, sendo a voltagem apenas regulada por um pequeno chip. Este armazenamento de energia permite que o veículo possa circular mesmo em condições climatéricas adversas, ou seja, com ausência de luz. Uma tecnologia baseada também na investigação espacial da ESA, nomeadamente no desenvolvimento dos satélites. Com baterias bem carregadas, a velocidade deste automóvel pode atingir entre 250 a 500 quilómetros por hora.
A grande vantagem está no facto de o Nuna não ser poluente. E este é o grande argumento que tem levado Ockels a promover o invento em todos os eventos científicos realizados pelo mundo. Falta mesmo é que governos e industriais do sector se interessem pela comercialização. "Actualmente tudo é possível. Ainda há cinco anos não era pensável ter um computador dentro do telemóvel e hoje andamos com ele no bolso para qualquer lado", afirmou o ex-astronauta, pouco antes de expor a sua experiência perante uma plateia bem recheada. Para o cinetista nada impede que os carros movidos a energia solar sejam tão seguros, confortáveis e velozes como os actuais. A única diferença é que não poluem, por isso, "a indústria só tem de fazer a escolha".
A Agência Espacial Europeia há muito fez a opção e só utiliza a energia nuclear nos programas que desenvolve conjuntamente com os americanos da NASA. Wubbo Ockels ainda recorda com saudade a sua participação em 1978 no grupo de trabalho da missão Spacelab-1. "Senti-me pequeno", referiu o antigo astronauta, classificando a experiência de "maravilhosa".
Desde há muito que a energia solar é a principal fonte de alimentação usada pelos satélites aeroespaciais da ESA, que investe sobretudo na tecnologia das células e das baterias. E este tem sido o principal problema: tirar o máximo rendimento das células, apesar da insuficiente capacidade de armazenamento. Assim, até sexta-feira, especialistas em fotovoltaicas, baterias e conversores de energia vão trazer ao Porto as suas experiências e levantar a discussão. O grande objectivo, como salienta Philippe Perol, presidente da Agência Espacial Europeia, é "mostrar o que de mais avançado se faz na Europa e que, embora os resultados não sejam sempre imediatos, se faça a discussão dos projectos e o intercâmbio de ideias".
1 Comments:
"Conferência Bienal sobre sistemas de alimentação usados no espaço, que, desde ontem, decorre no Porto"
no Porto onde?
vitorsilva
no.weblog.com.pt
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