Nova tecnologia transforma ondas em electricidade
O mar sempre foi um potencial de recursos para Portugal: porta de saída para outros mundos e agora entrada para novas formas de energia, já que as ondas podem ser fonte de electricidade. Aliás, Portugal fundou o primeiro centro mundial de energia das ondas ligado à rede, mas está a ser estudada a hipótese de uma nova tecnologia dinamarquesa poder ser aplicada por cá.
Trata-se de uma nova tecnologia que está a ser testada numa plataforma flutuante, num fiorde do Mar do Norte, e que pode ser usada de forma isolada ou formando um parque, desde que a profundidade seja superior a 25 metros. Este projecto, Wave Dragon, é financiado pela Comissão Europeia e pertence a um consórcio de 12 parceiros.
Em 2006, os promotores esperam ter uma unidade com capacidade de produção, numa primeira fase, entre quatro e sete megawatts (mw) instalada no Atlântico, com capacidade para fornecer entre três a seis mil casas. E um dos locais em perspectiva é a costa portuguesa.
Hans Soerensen, responsável pelo projecto, adianta que o objectivo é avaliar que tipo de mercado existiria para a electricidade gerada pela energia das ondas em Portugal. Esta prospecção implica avaliar as ondas locais de forma a ajustar esta à da plataforma flutuante ao nível da sua dimensão: «É preciso que seja uma estrutura muito estável para que não se perca energia.» O investigador adianta que Portugal surge como uma das hipóteses para a primeira abordagem comercial desta tecnologia por se situar numa área de ondas apropriada e por ter boas condições económicas. É que o preço que o Estado se dispõe a pagar é muito convidativo: com um valor de 0,22 cêntimos por mw/hora, a exploração torna-se economicamente viável numa primeira fase. O problema, afirma Hans Soerensen, é que o incentivo só existe para esse momento e faltam apoios para a segunda parte, que inclui a construção de um sistema de alta potência que possa fornecer mais 10 mw.
Teresa Pontes, investigadora do Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI) responsável pelo grupo de energia das ondas, assinala que Portugal «está na linha da frente» nesta área, detendo «muito boas condições naturais e muita capacidade tecnológica e científica». Uma posição que justifica o facto de haver «um conjunto de protótipos com muito interesse em vir para Portugal». Teresa Pontes adianta que, contudo, só «interessa participar se houver uma incorporação significativa de tecnologia nacional».
Os investigadores acreditam nas potencialidades desta nova forma de energia que, podendo contribuir para a redução de emissões com o dióxido de carbono, pode cobrir até 50 por cento do consumo mundial de electricidade. O problema é que a tecnologia está a dar os primeiros passos e a pesquisa é muito cara. Ainda assim, os especialistas acreditam que será possível, com a massificação deste sistema, atingir economias de escala que possam traduzir-se em preços competitivos com o petróleo ou energia eléctrica.
A aposta de Portugal na energia das ondas começou já em 1978, com a instalação de uma central piloto, na Ilha do Pico, a primeira a nível mundial ligada à rede pública de distribuição de energia. Esta central, resultado de uma parceria entre o INETI e o Instituto Superior Técnico, está actualmente em remodelação. Outro projecto em perspectiva para utilizar a energia das ondas está pensado para a cabeça dos molhes a construir na foz do Douro, no Porto.
Uma indústria que já emprega 200 mil pessoas
A União Europeia deverá investir, até 2006, 400 milhões de euros no desenvolvimento de novas tecnologias aplicadas às energias limpas. Um esforço de investigação a acompanhar o crescimento de produção de electricidade a partir de fontes renováveis. O Conselho Europeu de Energias Renováveis prevê que, em 2020, a electricidade verde satisfaça 20 por cento do consumo energético da população europeia. Contando com as mais importantes fontes - eólica, hídrica, fotovoltaica, biomassa e geotermal - prevê-se um crescimento de 34 por cento na produção, em 16 anos. As energias renováveis apresentam-se como um instrumento para o cumprimento do Protocolo de Quioto, que por sua vez visa inverter o ritmo de aquecimento do planeta. Para além disso, a indústria das energias renováveis na Europa gera anualmente 10 biliões de euros e emprega 200 mil pessoas. Ao contribuir para diminuir a dependência do petróleo, a produção de electricidade limpa é vista como um instrumento de equilíbrio global, na medida em que diminui o fosso entre o Norte e o Sul.
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